Memória histórica do povo Avá-Canoeiro
Quem são? Qual sua história?
Os Avá-Canoeiro autodenominam-se Ãwa, palavra que, “ como em outras línguas tupi-guarani, significa gente, ser humano, homem adulto” (Teófilo da Silva, 2005: 14).
A princípio segundo a literatura histórica, os antigos “
canoeiros” da bacia do rio Tocantins, povo de língua tupi, preferiam a morte a
se render ao inimigo e assim ficaram famosos como o povo que mais resistiu ao
colonizador no Brasil central. Desde o início do século 19, após embates e fuga
dos colonizadores, parte do grupo que vivia nas cabeceiras do rio Tocantins se
dirigiu à região do médio rio Araguaia, com a separação dos Avá-Canoeiro há
cerca de 170 anos, os dois grupos – do Rio Araguaia e do Rio Tocantins-
passaram a ter uma história distinta, tendo em comum apenas a vivência do
genocídio.
Na região do Araguaia, os avá-canoeiro são mais conhecidos regionalmente como “ cara preta “, nome que talvez tenha alguma relação com a origem do grupo, que foi motivo de debates na literatura, não tendo chegado, ainda, a uma resposta definitiva. Alguns autores "Cunha Mattos, Couto de Magalhães, Rivet" alegavam que os canoeiros eram descendentes dos karijó de São Paulo, nome genérico dado aos índios de língua tupi-guarani trazidos de São Paulo pelo bandeirante Bartolomeu Bueno Filho, o segundo Anhanguera, conhecido como o descobridor da capitania de Goiás.
A historiadora Dulce Pedrosa retomou outro elemento da
antiga tradição oral goiana, segundo a qual os canoeiros eram mestiços dos
índios karijó com os negros fugidos dos quilombos. Porém os dois grupos que
foram contatados no Araguaia e no Tocantins não apresentam nenhuma
característica física que evidenciasse uma possível afrodescendência. Quando
perguntados sobre sua origem, sem ter sido feita menção a teoria não – indígena
da miscigenação, os próprios avá-canoeiros do Araguaia disseram que seu povo “
começou” a partir da mistura mítica – histórica entre três grupos diferentes:
os Avá-canoeiro ( Ãwa), os “ outros índios “ (bairàpagawai) e os “ negros “ (
tapanha).
O representante mais velho do grupo, “ TUTAWA “, que até
falecer em 2015, era a principal referência atual da memória pré-contato, fez
questão de dizer em português, sem o auxílio dos tradutores , que “ eu também (
sou) tapanha ( negro) “. Segundo Davi
Wapotxire traduzindo as palavras de seu avô, “ os índios avá têm um pouco de
sangue de negro “. A “ mistura “ teria se originado por meio de uma relação
sexual forçada entre uma mulher avá-canoeiro e um homem negro, o que acrescenta
da violência sexual e de gênero ao histórico de relações com os não índios.
Atualmente, o grupo avá-canoeiro do Tocantins vive em
opressão sob tutela de um convênio indenizatório entre a FUNAI e FURNAS,
enquanto o grupo do Araguaia vive disperso em aldeias karajá e Jaraí, embora
esteja á frente de um notável processo de resiliência, afirmação étnico e
retomada de porte do território tradicional.
Referência:
Rodrigues, Patrícia de Mendonça. Avá-Canoeiro. set. 1998
Está disponível em https://pib.socioambiental.org/pt/Povo:Av%C3%A1-Canoeiro
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