QUEM SOMOS

Memória histórica do povo Avá-Canoeiro

Quem são? Qual sua história?

Foto: O pajé e líder Tutawa, Fazenda Canuanã. Capão de Areia, Klaus Gunther, 1973


       Os Avá-Canoeiro autodenominam-se Ãwa, palavra que, “ como em outras línguas tupi-guarani, significa gente, ser humano, homem adulto”  (Teófilo da Silva, 2005: 14).

    A princípio segundo a literatura histórica, os antigos “ canoeiros” da bacia do rio Tocantins, povo de língua tupi, preferiam a morte a se render ao inimigo e assim ficaram famosos como o povo que mais resistiu ao colonizador no Brasil central. Desde o início do século 19, após embates e fuga dos colonizadores, parte do grupo que vivia nas cabeceiras do rio Tocantins se dirigiu à região do médio rio Araguaia, com a separação dos Avá-Canoeiro há cerca de 170 anos, os dois grupos – do Rio Araguaia e do Rio Tocantins- passaram a ter uma história distinta, tendo em comum apenas a vivência do genocídio.

  Na região do Araguaia, os avá-canoeiro são mais conhecidos regionalmente como “ cara preta “, nome que talvez tenha alguma relação com a origem do grupo, que foi motivo de debates na literatura, não tendo chegado, ainda, a uma resposta definitiva. Alguns autores  "Cunha Mattos, Couto de Magalhães, Rivet" alegavam que os canoeiros eram descendentes dos karijó de São Paulo, nome genérico dado aos índios de língua tupi-guarani trazidos de São Paulo pelo bandeirante Bartolomeu Bueno Filho, o segundo Anhanguera, conhecido como o descobridor da capitania de Goiás.

     A historiadora Dulce Pedrosa retomou outro elemento da antiga tradição oral goiana, segundo a qual os canoeiros eram mestiços dos índios karijó com os negros fugidos dos quilombos. Porém os dois grupos que foram contatados no Araguaia e no Tocantins não apresentam nenhuma característica física que evidenciasse uma possível afrodescendência. Quando perguntados sobre sua origem, sem ter sido feita menção a teoria não – indígena da miscigenação, os próprios avá-canoeiros do Araguaia disseram que seu povo “ começou” a partir da mistura mítica – histórica entre três grupos diferentes: os Avá-canoeiro ( Ãwa), os “ outros índios “ (bairàpagawai) e os “ negros “ ( tapanha).

     O representante mais velho do grupo, “ TUTAWA “, que até falecer em 2015, era a principal referência atual da memória pré-contato, fez questão de dizer em português, sem o auxílio dos tradutores , que “ eu também ( sou) tapanha ( negro) “.  Segundo Davi Wapotxire traduzindo as palavras de seu avô, “ os índios avá têm um pouco de sangue de negro “. A “ mistura “ teria se originado por meio de uma relação sexual forçada entre uma mulher avá-canoeiro e um homem negro, o que acrescenta da violência sexual e de gênero ao histórico de relações com os não índios.

     Atualmente, o grupo avá-canoeiro do Tocantins vive em opressão sob tutela de um convênio indenizatório entre a FUNAI e FURNAS, enquanto o grupo do Araguaia vive disperso em aldeias karajá e Jaraí, embora esteja á frente de um notável processo de resiliência, afirmação étnico e retomada de porte do território tradicional.


     Memórias afetivas da Kamutaja Silva Ãwa, liderança indígena dos Ava-canoeiros 


"Esta foto é do documentário Ava-canoeiro,  "A Teia do povo invisível"... Meu avô gostava de fumar cachimbo".


"Esta canoa meu avô usava para ir ao internato onde estudei 11 anos da minha vida, para buscar pão e leite, cabeça de gado, cabeça de porco e também nos visitar".


"Esta foto foi bem recente, referente ao contato forçado. O homem de cabelo cortado é Apoema Meireles, ao lado meu Avô Tutawa e seu irmão Tuxi".


"Aqui minha família tinha ido a Brasília, teve uma reunião na sexta câmera. Minha família contou sobre nossa história e que queríamos nosso território. Meu avô Tutawa é este homem de azul claro e minha mãe a senhora de vermelho e o meu tio Agaike de camisa vermelha também".


"Esta foto é de um vídeo que fizeram do meu avô caçando veado, nos anos 70, era uma forma do meu avô manter nossa família e trocar as carnes por arroz, farinha, dinheiro".


"Nesta foto estávamos fazendo o reconhecimento do território".


"Meu irmão Kupere em Brasília pedindo reparação e que a única reparação é devolvendo nosso território tradicional T.I Taego Âwa".


"Nesta foto meu irmão Wapoxire, nosso atual cacique carrega meu avô nas costas durante o reconhecimento da nossa terra porque ele havia cansado e não estava conseguindo andar". 


"Estas crianças é alguns dos meus sobrinhos em um encontro que fazemos anualmente na casa da minha irmã Typyire. Nem todos vão devido a questão financeira, locar/fretar um carro é caro".





Referência:

Rodrigues, Patrícia de Mendonça. Avá-Canoeiro. set. 1998

Está disponível em https://pib.socioambiental.org/pt/Povo:Av%C3%A1-Canoeiro





Nenhum comentário:

Postar um comentário

Identidade

 Ava-Canoeiro      Nada aniquilou ou domesticou a vitalidade resiliente dos sobreviventes ãwa, que seguiram adiante contando essencialmente ...