ARTIGOS

 


Os Avá-Canoeiro do Araguaia e o tempo do cativeiro 

 Patrícia de Mendonça Rodrigues Consultora Autônoma

      O presente artigo* refere-se aos Avá-Canoeiro do rio Araguaia, que possuem uma história diferenciada e se distinguem etnicamente dos Avá-Canoeiro do rio Tocantins, embora os dois grupos se autodenominem Ãwa. O histórico dos Avá-Canoeiro e sua situação atual podem ser considerados como um dos mais dramáticos exemplos de opressão vivida por um povo indígena em solo brasileiro. Tendo em vista o desconhecimento desses fatos pela maior parte das pessoas, o que contribuiu para manter a exclusão do grupo de uma pauta mínima de direitos humanos por décadas, o artigo tem o objetivo principal de registrar e divulgar esse drama contemporâneo o mais amplamente possível. Em dezembro de 2013, fará 40 anos que uma violenta Frente de Atração da Funai capturou, em duas etapas, os remanescentes dos Avá-Canoeiro do Araguaia na Mata Azul, seu último refúgio após décadas de massacres e fuga em condições espantosamente desumanas. O evento crítico da captura – que marcou a derrota final depois de dois séculos de ativa resistência – é percebido pelos Avá-Canoeiro como um divisor radical entre um tempo de relativa autonomia e enfrentamento, ainda que marcado pelo desaparecimento da maior parte do grupo, e o tempo do cativeiro, um eterno presente de submissão, subordinação e extrema marginalização. A criação de um Grupo Técnico da Funai (GT) em 2011 para identificar e delimitar uma terra indígena exclusiva para os Avá-Canoeiro do Araguaia1 constituiu-se no primeiro passo histórico do Estado brasileiro para reparar minimamente as atrocidades de que o grupo foi vítima desde o século 18, chegando à beira da extinção física. No relatório antropológico apresentado em 2012 (Rodrigues, 2012), no entanto, tem mais relevância a extraordinária resiliência física e cultural dos Avá-Canoeiro, que persistem incansavelmente como povo único e com um futuro à frente, do que a descrição detalhada da sua perseguição implacável e dizimação pela sociedade nacional, ou do seu aprisionamento e posterior abandono pelos agentes do órgão indigenista nas aldeias dos Javaé, seus inimigos tradicionais, onde vivem até hoje à espera do retorno a um lugar próprio.

Fonte: Os Avá-Canoeiro do Araguaia e o tempo do cativeiro Patrícia de Mendonça Rodrigues Consultora Autônoma

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